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quarta-feira, 10 de abril de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: UM PASSEIO NO SÍTIO DO MIGUEL PEREIRA


A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: UM PASSEIO NO SÍTIO DO MIGUEL PEREIRA


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 

 

 
Passemos novamente às recordações referentes aos casos relacionados à Fazenda de meu bisavô João Pereira da Cunha, o sinhô português conhecido pela alcunha de João Barba de Argolão, na Cachoeira dos Pereiras. Eu ainda recordo de um Sítio, que foi dado por ele como herança a Miguel Pereira, que não só herdou a terra como também herdou o sobrenome de João Argolão.

 

Miguel Pereira era um escravo muito estimado pela família de João Argolão. Eu não conheci Miguel, pois, quando eu nasci, ele já era falecido. Mas ainda existiam alguns descendentes de Miguel, que eu recordo deles, como, por exemplo, a Margarida, mãe de Ozébio e China.

 

Nessa época do acontecido que vou narrar, Euzébio já era casado com Redosina, ainda, recém-casados. Havia outros descendentes de Miguel que, no momento, eu não me recordo dos nomes. Isto se passou na década de 1910 a 1920.

 

Na época em que eu conheci esse Sítio, eu era ainda bem menino (nasci em 18 de fevereiro de 1910), com cinco ou seis anos de idade mais ou menos. Recordo-me que, um dia, meu irmão Olavo e tio Camilo (os dois ainda eram solteiros), e mais dois rapazes (que trabalhavam para meu pai), reuniram-se, os quatro, e disseram: “– Vamos lá no Miguel Pereira”, se bem que Miguel Pereira já era falecido. O interessante é que o nome do preto Miguel ficou naquele Sítio, que era conhecido por todos como Sítio do Miguel Pereira. E quando eles já iam saindo, eu disse pra meu irmão Olavo: “– Eu também quero ir aonde ocês vai.” E aí, meu irmão Olavo e tio Camilo diziam: “– Menino não pode ir aonde nóis vai!” Eu comecei a chorar e dizia: “– Eu também quero ir!” E, nesse momento, minha mãe chegou e disse: “– Por que ocês não quer levar o menino? Ele também gosta de passear!” E meu irmão disse: “– Então, vamos!” Eu saí todo contente, mas eles, não. O meu tio Camilo não gostou nada da minha companhia, e ia sempre dizendo: “– A comadre Antoninha não devia deixar o menino sair com rapaz, principalmente aonde nóis vamos!” E começaram a fazer-me recomendação, dizendo: “– O que ocê vê lá, aonde nóis vamos, não vai dizer em casa!” E meu irmão Olavo, também chateado com minha presença, falava até em me bater, se eu dissesse em casa alguma coisa. E, assim, nós fomos, até chegar ao Sítio do Miguel Pereira.       

 

A Sede, onde fora a residência de Miguel Pereira, era uma casa bem grande e que ainda estava em bom estado de conservação. Havia mais três casas menores, e, em uma delas, morava Margarida, com a filha China. Em outra casa, moravam Euzébio e Redosina, ainda no início da vida conjugal. Na Sede, onde fora a residência de Miguel Pereira, ali morava um grupo de mulheres sem maridos.

 

Eu, de minha parte, ainda criança, não vi nada demais sobre o procedimento delas com o tio Camilo, meu irmão Olavo e os outros dois rapazes; mais, era uma brincadeira de jogar mamucha de laranja uns nos outros. E eu, por ser ainda menino, não entrava na brincadeira deles. Mas, eu ficava curioso, observando aquela brincadeira, que eu achava tão engraçada.

 

Na volta, eles me recomendavam e diziam: “– Ocê não vai contar em casa o que ocê viu. Sim?” Eu não dizia nada, ficava calado. Mas, sempre pensando sobre aquela brincadeira deles, com aquelas mulheres desconhecidas que eu vi pela primeira vez.

 

E lá, em casa, numa certa hora, eu lembrei-me daquele momento tão importante, que eu vivi naquele dia de Domingo, aquele dia em que, pela primeira vez, fiz um passeio sem minha mãe e minhas irmãs. E sem pensar na recomendação que me fizeram, ao voltar daquele passeio, na hora em que estávamos todos na cozinha conversando, lembrei-me da brincadeira e disse pra tio Camilo e meu irmão Olavo: “– Eu achei tão engraçado ocês jogando mamucha naquelas muié e elas jogando mamucha nocês”. O tio Camilo saiu da cozinha e foi pra sala. E minha mãe disse pra meu irmão Olavo: “– Aaah! É por isso que ocê não queria levar ele junto com ocês. E meu irmão descartando que não era nada daquilo que eu dissera, que era na casa de Ozébio e de Margarida, e ficou por isso, na hora. Mas, depois que passou aquele momento, ele me disse: “– Nunca mais eu levo ocê em lugar nenhum”. E, daquele dia em diante, eles saíam escondidos de mim.

 

O Sítio, que Miguel Pereira deixou de herança pra seus descendentes, tinha não só frutas de várias qualidades, como também lavoura de café. Esse Sítio, naquela época, ficava entre a estrada de rodagem, pra quem desce do Alto-Carangola para o Divino de Carangola, como era naquele tempo. O Sítio ficava na região do Alto-Carangola, fazendo divisa com os dois distritos (Alto-Carangola e Divino do Carangola). Essa estrada tinha o nome de Estrada dos Ferreiras, porque passava entre a [dentro da] Fazenda de Antônio Ferreira, pai de Totony Ferreira. Pai e filho já são falecidos, mas os filhos e netos de Totony Ferreira, que são seus herdeiros, ainda moram lá.

 

A Estrada Rio-Bahia (Estrada BR-116), construída não faz muitos anos, passa na barra desse Sítio que, hoje em dia [anos 80], pertence ao meu parente Domício Alves, que o comprou. Domício comprou não só esse Sítio, como também comprou uma grande quantidade de alqueires de terra dos herdeiros do Capitão Chico Victor. As terras do Capitão Chico Victor faziam divisa com o Sítio de Marcolino de Sousa (meu tio), que também vendeu o seu Sítio pra Domício Alves. Domício Alves juntou os Sítios, formando uma imensa Fazenda, com pastos e uma grande criação de gado bovino e vacas leiteiras.

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