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segunda-feira, 8 de abril de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: JOÃO ARGOLÃO E A GUERRA DO BRASIL-IMPÉRIO CONTRA O PARAGUAI


A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: JOÃO ARGOLÃO E A GUERRA DO BRASIL-IMPÉRIO CONTRA O PARAGUAI


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 


Passamos, agora, para um outro caso sobre João Pereira da Cunha, o João Argolão, meu bisavô. Diziam que, poucos anos depois que João Argolão veio da região de Ponte Nova para Cachoeira dos Pereiras (uma extensão de terra localizada em Divino do Carangola), houve uma guerra, que foi denominada como Guerra do Paraguai. Nessa época, os filhos de João Argolão já estavam rapazes.

 

Como o Império do Brasil, naquele tempo, não tinha um exército militar para lutar contra os inimigos, era preciso que todos os brasileiros se reunissem em defesa da Pátria. A guerra durou sete anos e, já quase no final, era preciso caçar gente, até com cachorro, para o combate. Como naquele tempo o Brasil era ainda uma imensa floresta, o povo se escondia no mato.

 

João Argolão, temendo que os seus filhos fossem presos para combater na guerra, mandou fazer um rancho em uma encosta, bem longe da Fazenda, no meio da mata. E mandou os filhos praquele rancho. E recomendou que não se fizesse anarquia [barulho], para não alertar alguém que, por acaso, tivesse cachorro, procurando gente para o combate. E os filhos, que eram obedientes, ficaram presos ali, quietos, naquele deserto, quase sem ver a luz do sol.

 

Todos os dias, um escravo de João Argolão ia levar comida praqueles rapazes escondidos. Naquele deserto, só não era preciso levar água, porque o rancho fora feito na cabeceira d’água, aonde eles apanhavam água para beber.

 

A guerra ainda estava acontecendo, quando, um dia, eles (os filhos de João Argolão) mandaram o escravo, que ia levar a comida pra eles, falar com o pai, se eles podiam dormir uma noite em casa, e que, depois, eles voltavam pro rancho novamente. João Argolão tomou opinião com Sinhá Antoninha, sua mulher, se deveria deixar eles dormirem uma noite em casa. Sinhá Antoninha concordou, pois já estava com saudade dos filhos, pois já fazia tempo que eles estavam escondidos nas matas, com medo de irem pra guerra. E assim o pedido foi aceito.

 

O mesmo escravo que trouxe o pedido para o Sinhô João Argolão deixar os filhos dormirem uma noite em casa, foi o mesmo portador que levou a notícia, que eles podiam vir. E assim eles vieram dormir em casa.

 

Sinhá Antoninha já estava esperando os filhos, até numa meia festa, pois a saudade era muita. Já havia bastante tempo que eles viviam presos naquele rancho, no meio do mato, quase como se fossem criminosos.

 

Por sorte deles, parecendo até que foi mandado por Deus, e foi mesmo, pois Sinhá Antoninha era devota e rezava todos os dias, pedindo a proteção de Deus para seus filhos, justamente naquela noite em que foram dormir em casa, houve uma tempestade, com chuva e vento muito fortes, e a ventania arrancou uma árvore, das maiores, e a copa daquela árvore cobriu o rancho, que ficou arreado no chão. Eles, João Argolão e Sinhá Antoninha, compreenderam que foi a providência de Deus que salvou os filhos de não morrerem esmagados debaixo de uma gaiada de pau. E, daquele dia em diante, não mandaram os filhos se esconder para não irem à guerra. Compreenderam que, para morrer, não precisa ir à guerra. A morte está em qualquer lugar.

 

Mais tarde, depois que as matas foram derrubadas, e também passou a estrada comercial, naquele lugar, onde os filhos de João Argolão ficaram escondidos, o Tio Bastião Pereira, filho do Argolão, casou-se e fixou a sua residência. Ele fez uma grande casa de madeira, daqueles casarões com o pé direito alto, casa de guieiro coberta de telha canoada, barreada com barro amassado e rebocada com areia, com duas salas grandes, com dois quartos de frente para a estrada; no centro tinha outra sala grande e mais dois quartos; e, nos fundos da casa, tinha uma grande cozinha, com despensa. A casa de Tio Bastião era toda assoalhada com tábua de cedro; os esteios eram de braúna (madeira que dura mais de cem anos fincada na terra). Com a morte do pai João Pereira, o Barba de Argolão, Sebastião recebeu a sua parte da herança, que era exatamente a extensão de terra onde ele já estava morando.

 

Meu tio Sebastião Pereira e a esposa Maria Luisa tiveram oito filhos, sendo dois homens e seis mulheres. Nome dos homens: João e Francisco. Nome das mulheres: Maria, Sebastiana, Virgínia, Amélia, Regina e Luzia. Esses foram os herdeiros de tio Bastião Pereira e tia Maria Luisa. Neste momento em que conto esta história (meados dos anos oitenta), não sei se ainda existem alguns dos filhos vivos, mas sei que os netos são, até o dia de hoje, os donos da Fazenda. Os netos e os bisnetos de tio Bastião ainda moram lá.

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