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terça-feira, 11 de outubro de 2011

GILBERTO MENDONÇA TELES, O POETA SINGULAR - ANÁLISE DO POEMA "&CONE DE SOMBRAS"

GILBERTO MENDONÇA TELES, O POETA SINGULAR - ANÁLISE DO POEMA “&CONE DE SOMBRAS”

NEUZA MACHADO



Esta análise do poema "&Cone de Sombras" faz parte do livro de Neuza Machado: Criação Poética: Tema e Reflexão - Sobre a obra poética de Gilberto Mendonça Teles.

&Cone de Sombras

Gilberto Mendonça Teles

Um ícone de sombras e penumbras
está a teu alcance algum momento
como um sinal, uma dicção, alguma
forma que ainda vai acontecendo.

Um cone apenas restará: o espaço
reticente do amor com sua força
silensual: seus tropos, seus acasos,
sua quota de lenda em conta-gota.

Também a conexão de alguns requintes,
de sugestão na meia-luz contrária:
alguns raros meandros e melindres,
a leitura do verso da medalha.

Se um eclipse anular teu privilégio
de percepção da imagem retorcida,
é que no fundo a taxa de mistério
continua por dentro, na saliva,

no resmungo da língua e na viagem
que em si mesma se faz, mas sem caminho,
sem margens de sentido – pura praxe,
simples figuração do descontínuo.


(TELES, Gilberto Mendonça. Hora Aberta. (Poemas reunidos). 3. ed., Rio de Janeiro: José Olympio / Brasília: INL - Instituto Nacional do Livro, 1986 (Edição Comemorativa dos Trinta Anos de Poesia).


No poema anterior de Gilberto Mendonça Teles, “A Pedra" (já analisado páginas atrás), o sujeito da enunciação, utilizando-se de jogos de palavras, usando um só referente pluri-ambíguo, demonstra o esforço do lapidador para significar o indizível e, posteriormente, o trabalho que terá de ser realizado se um possível alguém resolver decodificar o já manifestado, mas que continua ainda sob uma estrutura hermética. Em “A Pedra”, o sujeito da enunciação não está indicando caminhos para uma possível decodificação da escrita poética, apenas constata as dificuldades iniciais do obreiro, sua condição de intermediário entre dois espaços – intuição (extratexto) e significação (texto) – e revela algumas formas de como se penetrar na trama plurissignificativa própria da poesia.

Em “&Cone de Sombras”, o sujeito da enunciação poética está camuflado, esconde-se atrás de um pressuposto orientador de caminhos. Isto se dá em virtude de a mensagem se estruturar no já textualizado. O trabalho de lapidação da pedra não aparece (as fases pré-textuais não estão visíveis).

Um ícone de sombras e penumbras
está a teu alcance algum momento
como um sinal, uma dicção, alguma
forma que ainda vai acontecendo.

Um cone apenas restará: o espaço
reticente do amor com sua força
silensual: seus tropos, seus acasos,
sua quota de lenda em conta-gota.

A exemplo do outro poema analisado ("A Pedra"), e seguindo a orientação da semiologia do texto poético, este poema "&Cone de Sombras" também foi dividido em movimentos, para que seus campos semânticos se tornassem visíveis. De acordo com o ponto de vista da Semiologia Literária de Segunda Geração (ponto de vista esse recuperado teoricamente dos livros de reconhecidos Semiólogos da segunda metade do século XX), as duas estrofes acima representam o primeiro movimento, primeiro passo para o esclarecimento da linguagem poética (Gênero Lírico), permanentemente plurissignificativa e transgressora. O segundo movimento do poema se situa na terceira estrofe. Detecta-se um terceiro movimento, que começa na quarta estrofe e termina na expressão "sem margens de sentido", situada no terceiro verso da quinta estrofe. O sinal de travessão, contido neste terceiro verso da quinta estrofe, oferece margens de sentido que remetem a um quarto movimento (sem dúvida, uma síntese da mensagem contida neste texto poético em especial).

Para esclarecer melhor, reporto-me ao primeiro movimento: Em princípio, sei apenas que "um ícone de sombras e penumbras" está ao alcance de um tu hipotético. Segundo Greimas, nenhum texto poético autoriza o leitor-analista a ressaltar um destinatário específico em comunicação com o remetente. Por tal motivo, abandono temporariamente minhas prováveis fenomenológicas interpretações extratexto e passo à decodificação do próprio texto poético enquanto camada visível. Assim, posicionando-me submetida às regras da semiologia – regras altamente cientificistas – encontro um primeiro referente: ÍCONE; este referente assinalado conforma o indizível, o não-dito ou qualquer outra denominação que se queira dar ao plano amorfo do Silêncio, enquanto espaço ainda não conceituado. Resguardada pelo referente ÍCONE, posso dizer que "uma imagem de sombras e penumbras" – uma parte do mistério passível de ser decodificado – encontra-se à disposição de quem quiser desenvolver um trabalho de pesquisa e empreender a busca para descobrir o que se oculta no espaço reticente do amor com sua força silensual. É suficiente, de acordo com o sujeito da enunciação poética, que este alguém saiba apreender o momento certo, observar os sinais, decodificar as mínimas unidades significativas, transcender a imagem em concretude até a desvelação do que foi, antes, manifestado hermeticamente.

"Um cone apenas restará". Neste primeiro verso da segunda estrofe, apreendo um outro referente, CONE, sugerindo-me a imagem do já manifestado, reunindo, ao mesmo tempo, todo o processo da manifestação. É o referente CONE o somatório de duas forças que se completam e se repelem, ou seja, além de sua própria força, enquanto espaço visível, instala-se nele (CONE), também, o mistério do ÍCONE, espaço invisível repleto de "sombras e penumbras". ÍCONE e CONE: sombra e luz se unem explicitamente para significar alguns planos, passíveis de decodificação, inseridos no indizível espaço do Mistério Eterno. O CONE poderá ser visto, também, como um recurso de imagem para explicar o processo de filtragem de racionalização do Mundo do Silêncio.

Um cone apenas restará: o espaço
reticente do amor com sua força
silensual: seus tropos, seus acasos,
sua quota de lenda em conta-gota.

O referente CONE (se me ajusto cientificamente ao ponto de vista da semiologia literária) simboliza o próprio objeto poético, enquanto expressão da Linguagem; simboliza o entrelaçamento das diversas camadas que o compõem (visíveis e invisíveis); simboliza a própria manifestação do Amor (= Poesia-Silêncio ou Linguagem primordial) com sua "força silensual" (silenciosa e sensual?). Este espaço reticente do CONE qualifica o amor; é reticente porque necessita sofrer atos de preenchimentos, complementações, unificações; é reticente porque necessita de uma percepção transcendental que saiba captar as sugestões que se acham reveladas nas entrelinhas do espaço desvelado. Assim, CONE como espaço destinado ao Amor (CONE = invólucro da linguagem enquanto ato de amor), porque só o Amor preenche este vazio, esta carência; só o Amor, com sua "força silensual", propiciará uma futura e correta revelação ao entendimento do leitor.

Como detectar essa revelação?

O CONE, como já foi dito anteriormente, sintetiza os dois campos semânticos do texto poético: o velado e o desvelado, campos semânticos caracterizados esquematicamente como semas isotópicos, de acordo com a orientação dos postulados greimasianos. Deste modo, para facilitar minha posterior interpretação, depois da análise semiológica rigorosamente cientificista, e, assim, propiciar futuros estudos intertextuais, dividi o plano do CONE em dois sub-segmentos (não detectados no desenho esquemático – ver desenho esquemático no final do capítulo) e os classifiquei como CONE NEGATIVO, refletor do ÍCONE NEGATIVO, espaço invisível que se esconde no CONE POSITIVO, símbolo do espaço visível do texto poético.

Antes de continuar com a minha análise semiológica, quero esclarecer que os símbolos matemáticos positivo (+) e negativo (-), usados nesta pesquisa, não se prendem a nenhum raciocínio teórico já reconhecido e que tivesse se utilizado também de símbolos semelhantes, dentro de outros conceitos interpretativos. Apenas, quero esclarecer, reconheço o ÍCONE NEGATIVO, inserido no texto de Gilberto M. Teles, como o negativo de uma face do ÍCONE POSITIVO, realidade absoluta, incapaz de ser decodificada em sua totalidade. O CONE NEGATIVO e o CONE POSITIVO refletem, neste poema de Gilberto Mendonça, o ato de revelação da fotografia, uma vez que, sob a aparência da fotografia, sempre se oculta o negativo. O CONE POSITIVO, por meio deste raciocínio, revela a face recopiada do ÍCONE POSITIVO. Reafirmando tudo o que já foi dito anteriormente, o CONE se mostra como referente nuclear, em que forças antagônicas e, ao mesmo tempo, harmônicas se unem, propiciando uma luminosidade poético-criativa que poucos conseguem vislumbrar: "Um cone apenas restará: (...) seus tropos, seus acasos, sua quota de lenda em conta-gota".

Depois da manifestação do Amor – manifestação da Poesia-Linguagem como ato de amor – torna-se mais fácil perceber o CONE POSITIVO – camada visível – e, a partir dele, ultrapassar as fronteiras textuais até atingir o que foi apenas sugerido e se encontra invisível. Este é o plano do poema em que se vislumbra a criação poética de Gilberto Mendonça em toda a sua grandeza. Neste plano mimético situa-se "o amor com sua força silensual". Para decodificá-lo, recorri a indícios significativos que fazem parte do imaginário-em-aberto do ser humano, qualquer que seja o seu grau de conhecimento: científico, filosófico, religioso ou artístico. Neste caso, a interpretação extratexto se faz necessária, e todos os conhecimentos se unem em benefício da apreensão correta da mensagem poética. É importante realçar que a semiologia do texto poético se vale de uma análise fechada, cientificista, determinante de um olhar objetivo do texto visível. E aqui se instaura o meu próprio impasse teórico-crítico-reflexivo. A análise é altamente importante para a decodificação do texto literário, mas o estudioso da literatura necessita de uma maior abrangência teórico-crítica. Não considero uma atitude inviável a união pacífica dos dois grandes grupos críticos que comandaram os estudos da Literatura no final do anterior Segundo Milênio e que ainda continuam comandando nestes anos iniciais do Terceiro Milênio.

Resguardada pela minha própria compreensão do texto (por intermédio de orientação fenomenológica), depois da análise semiológica, passo agora a observar as palavras e expressões do poema de Gilberto Mendonça por um novo prisma, certa de que há uma pluralidade de sentidos subjacentes nas mesmas. Inicialmente, como já foi exposto na análise semiológica, procurei compreender as gradações imagísticas (imagens fragmentadas, imagens menores, imagens maiores, imagens complementares), todos "os tropos somados aos acasos" (combinações, idéias inesperadas, conexões, intuições). "Acasos" também simbolizando os vários caminhos que levam à manifestação do amor: caminhos que se encontram, que se combinam, que se multiplicam, que se prolongam, que se perpetuam, etc. Alargando meu campo de percepção, mentalizo no espaço do CONE, além dos "tropos e acasos", "uma quota de lenda em conta-gotas", ou seja, as gotas de lenda que compõem o riquíssimo imaginário do ser humano. O sujeito da enunciação, neste poema especificamente, deixa a cargo do leitor o ato de repensar as lendas, porque no CONE, plano semântico nuclear de seu poema, há apenas sugestões. As lendas fazem parte do inconsciente coletivo; todos têm conhecimento delas, em maior ou menor grau; por isto, na intuição do Poeta, elas vêm em conta-gotas. O pressuposto analista necessitará de sua própria compreensão fenomenológica, de todos os conhecimentos adquiridos por meio de indispensáveis e constantes leituras para decodificar/interpretar o CONE.

Reportando-me novamente à Semiologia de Segunda Geração, melhor dizendo, ao esquema do primeiro movimento, detecto ÍCONE e CONE como referentes que propiciam a manifestação da linguagem e alguns sememas que definem cada referente. Os sememas que constroem o referente ÍCONE, neste primeiro movimento, são as palavras e expressões: sombras, penumbras, um sinal, uma dicção, todas simbolizando uma única idéia, uma espécie de síntese do próprio referente: "forma que ainda vai acontecendo", mistério passível de ser revelado, mas, por enquanto, velado. "Velado": sema nuclear do referente ÍCONE.

Os sememas que compõem o referente CONE são as expressões: seus tropos, seus acasos, sua quota de lenda em conta-gotas, também exprimindo, numa única idéia-síntese, "o espaço reticente do amor com sua força silensual". No âmbito do CONE, o mistério já foi desvelado. "Desvelado" é o sema nuclear do referente CONE.

Sintetizando este primeiro movimento, posso dizer que existem dois espaços semânticos compondo a manifestação do amor, ou seja, a manifestação da Poesia, ou do próprio Amor em todas as suas gradações possíveis, ou, até mesmo, da essência da Vida, ou, quem sabe?, do Infinito, do Abstrato, do Atemporal. Estes dois espaços, o velado e o desvelado, compõem a Vida, compõem a obra de um Poeta. Estes dois espaços, interligados, estão à disposição de quem quiser penetrar no texto e tentar decodificar, para posteriormente compreender, o que se encontra VELADO, mas latente nas entrelinhas.

No segundo movimento, o sujeito da enunciação poética esclarece muito mais. Além do velado e do desvelado, há mais um dado importante compondo o todo do texto poético: não basta apenas desvelar o que antes estava velado, há a necessidade de re-velar, trazer à luz as ideias que estavam veladas e que poderiam continuar ocultas depois da desvelação. Revelar é muito mais do que simplesmente desvelar, revelar é mostrar os caminhos difíceis que o poeta necessitou percorrer para que, finalmente, pudesse manifestar o Amor em toda a sua plenitude. É ele que afirma: Há "um ícone de sombras e penumbras", há um cone que é o "espaço reticente do amor", mas há uma CONEXÃO, unindo ÍCONE e CONE. CONEXÃO, neste segundo movimento, traduz mais um referente. Os sememas que compõem este novo referente são: alguns requintes, sugestão na meia-luz contrária. O sema isotópico será, naturalmente, o termo RE-VELADO.

Esta CONEXÃO, portanto, referenciando a união, a junção, o fortalecimento pelas bases; informando semiologicamente a força que atuará unindo os campos semânticos. O Poeta, no início, antes de passar a palavra ao sujeito da enunciação, seu alter ego no Espaço da Poesia, possui apenas uma forte intuição. Ao começar sua obra, parte de um espaço velado e começa a desenvolver o processo de manifestação do que foi intuído (ele afirma que é a manifestação do amor) até chegar ao desvelado. Há um estímulo de imagens ao acaso (o que na fenomenologia bachelardiana é reconhecido como “repouso ativado”) e o Poeta não tem controle nesses estímulos, nessas combinações, apenas procura dar forma a esta intuição. Assim, ele se vale de alguns requintes, de algumas sugestões na meia-luz contrária, para que haja, posteriormente, a RE-VELAÇÃO. Para que ocorra uma autêntica revelação, procura controlar seus impulsos poéticos, valendo-se criativamente de seus conhecimentos. Não que este controle seja uma condição sine qua non para se revelar o Amor. Ele mesmo diz: "Também a conexão de alguns requintes" (...). Também poderá ser condição, ou sugestão. Poderá oferecer a idéia de acréscimo, de continuidade, poderá ser, ou não ser, supérfluo. Na verdade, não é e não será uma condição essencial.

Observe-se este semema: "sugestão na meia-luz contrária". As palavras que compõem o semema transmitem a ideia de opacidade. Por meio do confronto, da oposição, do questionamento, dos obstáculos enxerga-se mais, chega-se ao que se quer sugerir. E eis o ÍCONE camuflando alguns "raros meandros e melindres"; alguns raros caminhos de uma região afastada, isolada, inacessível; alguns raros caminhos do Grande Mistério (e o Mistério, na obra de Gilberto Mendonça Teles, se configura como uma estrutura isotópica maior, o Grande Sema Isotópico), aquilo que é denominado como ÍCONE POSITIVO e que poderia se chamar, também, MUNDO DO SILÊNCIO. O sujeito da enunciação afirma que, nessa região inacessível, há caminhos; há brechas; há mágoas (melindres). Ele percorreu esses caminhos, vislumbrou as brechas, sofreu mágoas até atingir o ponto fraco (ou forte) de si mesmo; até alcançar a essência, o interior da própria alma. Toda esta caminhada não revela o ÍCONE POSITIVO em toda a sua grandeza, mas possibilita revelar uma parte do ÍCONE NEGATIVO. O seu processo de manifestação do Amor se verá refletido em um pequenino CONE, "a leitura do verso da medalha". Consequentemente, "um cone apenas restará". Cabe a você (um tu hipotético) deslindar o mistério do ÍCONE NEGATIVO que se projeta no CONE.

No terceiro movimento, o sujeito da enunciação vislumbra a possibilidade da obra não ser devidamente decodificada.

Se um eclipse anular teu privilégio
de percepção da imagem retorcida,
é que no fundo a taxa de mistério
continua por dentro, na saliva,
no resmungo da língua e na viagem
que em si mesma se faz, mas sem caminho,
sem margens de sentido (...)

"Eclipse", nas Ciências Exatas, transmite a ideia de obstrução. Imagina-se que, para o Poeta, a ideia seja semelhante. "Eclipse", nesta acepção, como obstrução do entendimento. Cada palavra possuindo plurissignificações e possibilitando inúmeras interpretações. Será que o analista (o simplesmente analista, o cientificamente analista) conseguirá compreender a mensagem contida nas entrelinhas do texto de Gilberto Mendonça Teles? "Se um eclipse anular teu privilégio de percepção". Atente-se para o jogo de ideias entre o Poeta e o Leitor: eclipse anular / eclipse lunar. A palavra anular (por enquanto, rejeita-se o seu valor verbal) oferece a ideia de anel, ou seja, rodear o texto e não entendê-lo. "Anular", em sua conotação verbal aponta para algo como apagar o entendimento. Aceitando-se o ludismo do Poeta, vislumbrar-se-á um eclipse lunar (inexistente no texto), transmitindo a ideia de obscuridade: a lua e o sol propiciando o eclipse. Isto realça a impressão de que nem sempre o leitor (crítico) poderá alcançar a mensagem que se encontra inserida nas entrelinhas de um texto poético. A linguagem da poesia lírica é naturalmente opaca, ambígua, possibilitando inúmeras interpretações. É uma linguagem que, apesar de revelar algo (não no sentido de esclarecer totalmente as mensagens sublineares, mas no sentido de vir ao mundo conceitual já camuflada), não consegue revelar o Grande Mistério da Criação Literária-Poético-Lírica em sua totalidade.

O quarto e último movimento do poema "&Cone de Sombras" sintetiza todo o conteúdo da mensagem. A linguagem poética também faz parte do mundo dos conceitos já sacralizados; possui inclusive suas próprias regras. As palavras (conceituais) são insuficientes para significar o Mundo do Silêncio. O Poeta sabe que está limitado, pelo fato de necessitar da linguagem (das palavras e dos sinais) para dar forma ao Mistério que só ele vislumbrou. Assim, tem muita razão quando nos diz que "a taxa de mistério continua por dentro, na saliva, no resmungo da língua". "Se um eclipse anular" o privilégio de entendimento do leitor, seja ele um principiante ou um grande estudioso do texto poético, é porque o mistério é muito grande e o texto "é pura praxis, simples figuração do descontínuo".

"&Cone de Sombras", pela ótica da interpretação fenomenológica (compreensão das entrelinhas do texto), simboliza a fórmula poética encontrada por Gilberto, para demonstrar os caminhos percorridos ao longo de sua atuação como revelador da Poesia que vigora no espaço amorfo do Silêncio. Esses caminhos, aparentemente inóspitos, propiciam a manifestação do amor, mas se encontram à deriva nesse mesmo espaço descontínuo. Cabe ao intérprete, muito mais que ao analista, refazer a trajetória do Poeta, valendo-se do próprio texto interpretado, para que possa ter o privilégio de entender o mistério que se encontra "por dentro, na saliva, no resmungo da língua".






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